
era fácil falar isso, era só mais uma frase... mas a frase nunca passou pelos seus lábios. ela ficou ali, armazenada no seu cérebro.
chegou a respirar fundo para soltar o ar com aquelas palavras... mas não o fez. por mais fácil que fosse, sabia que aquilo acarretaria muitas coisas quando saísse.
todos temos poder e não sabemos. o falar é um poder e nossas palavras são armas. uma palavra errada em um momento errado para uma pessoa errada... e tudo já era.
o medo de falar era grande. preferia guardar, sufocar-se, enloquecer a falar algo por impulso e machucar alguém.
por mais que a frase não fosse tão chocante quanto um "cale a boca!", já que sempre fora uma pessoa calma e sem exaltação, no contexto parecia ser pior que qualquer coisa. mas isso era porque a frase não se resumia a apenas quatro palavras; aquilo era só o início do discurso.
"você está me incomodando. não percebeu ainda que eu não ligo para o que você fala? e não ouse me interromper! suas histórias, seus amigos, você... até o seu jeito de falar está me incomodando e eu costumava amar isso. não, eu não quero escutar. você não é o único que tem problemas. olhe ao seu redor; o centro do mundo não está aí, no seu umbigo. não são todas as pessoas que se importam com você, não finja que se importa com todo mundo. as pessoas mentem... ah, é, como se você não soubesse disso. por que mentir? por que não viver? seus pés precisam voltar a tocar o chão. por mais que sua cabeça esteja aí no seu pescoço, vejo que isso é só figurado. seus pensamentos estão mais altos que os voos que passam acima das nuvens. sua vida pode ser um livro aberto, mas não são todas as pessoas que sabem e/ou querem ler. parabéns, você realmente conseguiu me irritar." e com isso, passaria pela porta, batendo-a, enquanto chorava descendo as escadas.
falaria o que precisava. gritaria livrando sua garganta. correria para se sentir livre.
mas apenas chorou com a frase ainda na cabeça até perceber que nada daquilo fazia sentido.
a mão que costumava segurar a sua, acariciou seu rosto, retirando as lágrimas que ali apareciam.
"o que está acontecendo?" a voz que cantava ao pé do seu ouvido perguntou com um forte tom de preocupação.
"nada..." fora a resposta dada. do contrário, explodiria com o seu discurso, acabando em sua cama, no meio dos cobertores e chorando.
"você tem certeza?"
"não." lágrimas continuavam caindo em sua face. mas isso era esperado. não as lágrimas, e sim o seu jeito de não falar nada e sofrer pelos outros. fazia parte de sua personalidade pensar duas, três, cinco vezes antes de falar e magoar qualquer um.
até quando isso aconteceria? mentiras, fingimentos, palavras machucando... respirou fundo.
"vou dormir."
"boa noite, meu amor." aqueles lábios bem desenhados supiraram aquelas palavras com tanta ternura que a pessoa que estava sendo beijada por eles quase acreditou.
"eu gostaria de saber o que é o amor." este foi o último pensamento, antes de lágrimas voltarem aos seus olhos. mãos passeavam por seu cabelo, enquanto uma música baixa ao fundo era escutada.
sua cabeça tornou-se pesada, para logo em seguida ficar leve, indicando que o sono havia vencido contra os seus pensamentos.
2 comentários:
Biuxa! Cada dia que passa, eu acredito mais e mais no seu talento! A fluidez das suas palavras são um verdadeiro dom e você a cada dia aprimora sua escrita mais e mais. Se eu pudesse apostar minhas fichas em alguém que um dia vai brilhar naquilo que ama e o faz com tamanha grandeza, eu não colocaria minhas fichas em outro alguém que não Beatriz Avanso. Sou sua fã, na vida, na escrita e no coração (L)
Muito bem escrito. Muito bem elaborado.
Adorei. De verdade!
Esse texto ficou realmente ótimo.
Parabéns ;D
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