Romeo +Juliet

"É a minh'alma, é o meu amor. Oh qu'ela o soubesse."
"Ai de mim!"
"Ela fala. Fala de novo, anjo brilhante."
"Romeu. Oh, Romeu! De onde vindes, Romeu? Renegai o vosso pai, rejeitai o vosso nome. Ou, se o não fizerdes, jurado seja meu amor, e não mais de Capuleto serei eu."
"Mais escutarei, ou a isto hei-de responder?"
"Só vosso nome é meu inimigo. Vós sois vós, mais que um Montéquio. Que é ser-se Montéquio? Mão não é, nem pé, nem braço, nem rosto, nem qualquer outra parte que a homem pertença. Oh, sê d'outro nome! Que há, um nome? Aquilo a que chamamos rosa tão doce cheiraria com qualquer outro nome. Assim Romeu inda teria, não se chamasse ele Romeu, a perfeição preciosa que ter deve, fora esse título. Romeu, desfazei-vos do vosso nome; e p'lo vosso nome, que parte nenhuma é de vós, tomai-me a mim inteira."
"A vós vos tomo, por vossa palavra."

"Não sois vós Romeu, e um Montéquio?"
"Nem um nem outro, se qualquer deles vos desgosta."
"Como chegastes aqui, dizei-me, e para quê? São altos os muros do jardim, e dura a subida, e o local morte, considerando quem sois vós."
"Co'as asas leves do amor galguei eu estes muros, que pedras não logram deter o amor. E o que pode amor fazer, a isso se vai amor atrever. Não são parentes vossos impedimento p'ra mim."

"Se vos vêem, vos matam."
"Tenho a casa da noite p'ra de seus olhos me esconder. Tão só que vós me ameis, e deixai que me encontrem aqui. Melhor seria por seu ódio minha vida terminada que morte prorrogada, carente de vosso amor."
"Sabeis que a máscara da noite meu rosto oculta; ou o vermelho de pudor virginal cingiria a minha face por aquilo que me tereis ouvido falar, esta noite. De bom grado alteraria a forma, resignada, disposta a negar o que falei. Mas... Adeus cumprimento. Amor me tendes? Sei que direis que 'sim', e em vossa palavra hei-de crer. Porém, se o houvesses de jurar, porventura falso vos provaríeis. Oh, gentil Romeu, se me amais, pronunciai-o de plena fé."
"Dama minha, por essa lua abençoada eu juro, que de prata adorna o topo de tod'estas árvores..."
"Oh, não jureis pela lua, a inconstante lua que de mês-a-mês muda em su'órbita circulada, não haja o amor vosso de provar-se assim variável."
"Por que hei-de jurar, então?"
"Não jureis, por nada. Ou, se quiserdes, jurai pelo gracioso que é o deus da minha idolatria, e em vós eu creio."
"Se do meu coração... Meu amor..."
"Não jureis. Embora com alegria em vós, alegria não tenho neste contrato, esta noite. É impetuoso, demasiado imprudente, demasiado súbito, como o relâmpago, que deixa de o ser antes de poder dizer-se 'relampeja'. Doçura, boa noite! Este botão de amor, pelo sopro amadurecedor do verão, bela flor pode vir a ser quando nos voltarmos a ver. Boa noite. Boa noite!"
"Assim me deixais, tão insastifeito?"
"Que satisfação podeis haver esta noite?"
"A troca da vossa fiel promessa de amor pela minha."
"A minha vos dei antes mesmo de a pedirdes!"

"Três palavras, querido Romeu, e boa noite de fato. Se de honra é a inclinação de vosso amor, de casamento o propósito, mandai-me palavra amanhã, por alguém que buscarei vos procure, onde e quando quiserdes realizar o rito, e todas as minhas fortunas a vossos pés deporei e seguir-vos-ei, meu amor, pelo mundo inteiro. (...) Mas se bem não é o que significais, eu vos imploro... (...) Que de labutar cesseis, e a meu penar me deixeis. Amanhã eu mandarei."
"Assim medra minh'alma."
"Mil vezes boa noite."
"Mil vezes tanto pior, pela falta da vossa luz!"
"Boa noite."
"Amor a amor se dirige como alunos desde seus livros; mas de amor desde amor, para a escola com um ar pesado."
"Romeu! A que hora hei-de amanhã enviar-vos mensageiro?"
"Pelas nove horas."
"Não faltarei. Vinte anos... Até então. Boa noite. Boa noite. Boa noite. Tão doce tristeza é a despedida que boa noite direi até a manhã ser nascida."
Romeu+Julieta.